Explorando novos caminhos

Jorge Miguel sempre achou que sua mente era um tipo de cometa errante: veloz e completamente fora da rota. Enquanto os outros – amigos, familiares – seguiam linhas retas, ele orbitava ideias, memórias e suas infinitas possibilidades, como quem tenta decifrar o mapa de um sonho que muda a cada amanhecer.

Por muito tempo, acreditou que era apenas desorganizado — talvez preguiçoso, talvez “inconstante demais”.

Repetiram isso tantas vezes que ele já estava começando a acreditar. Mas algo nele resistia. Uma indignação que insistia em dizer: “Não é preguiça!… É outra coisa!”

Levou décadas até descobrir o nome daquilo que o fazia esquecer compromissos, começar dez projetos e terminar “meio”, passar dias em silêncio e noites em pensamentos que o levavam para lugares distantes, todos ao mesmo tempo.

Quando finalmente entendeu que não era seu caráter que era defeituoso, mas que seu cérebro era neurodivergente, não-linear, o chão tremeu.

Não de medo — mas de revelação!

Era como descobrir que a vida inteira ele estava tentando tocar rock enquanto sua alma queria tocar jazz.

Mas a descoberta não trouxe apenas alívio. Trouxe também os fantasmas.

Os anos perdidos, as oportunidades que se foram, as pontes queimadas por distração ou falta de foco. O eco das vozes do passado ainda o visitava nas madrugadas: “você não se esforçou”, “você podia ser tanto”, “por que você nunca muda?”

E ele respondia, em silêncio: “eu tentei.”

Agora, em sua solitude, em frente à tela do computador, cercado por livros e pensamentos que insistem em pular de galho em galho, Jorge luta para perdoar o próprio passado. Às vezes, acha que está vencendo. Outras, se sente como um sobrevivente que acordou tarde demais para aproveitar a festa.

Apesar das angústias e da batalha interna, parece haver algo diferente crescendo dentro dele — uma serenidade estranha, um protótipo de autoaceitação. Porque, pela primeira vez, ele começa a perceber que não é mais possível consertar o que foi. Quer apenas entender e aprender como trilhar o caminho ainda desconhecido.

Nos dias bons, a sensação é de que ainda há tempo. Tempo para refletir com seriedade, para reconstruir pontes, encaixar as palavras e as atitudes.

E em alguns raros instantes de clareza, quando o café está na temperatura certa e a mente não está em guerra, ele até sorri. Porque talvez o sentido de tudo não esteja em ter vencido a vida linear, mas em ter sobrevivido a ela sem perder a capacidade de imaginar.

E isso, Jorge descobriu, é o que o torna singular: um cometa — que finalmente entendeu que não precisa, e nunca precisou, ser planeta.

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W.Riga - Escritor, artista visual, criador de conteúdo, criptoinvestidor, curioso, questionador e altamente nostálgico. 🚀🙂

  

 
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