Mas o cometa passou...

O ano era 1986, e o céu prometia um espetáculo! O tal do Cometa Halley — o mesmo que nossos avós viram quando o rádio ainda era rei — finalmente voltaria triunfal depois de 76 anos!

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As revistas garantiam que seria “o evento do século”. A Coca-Cola lançou latinha comemorativa, e até o posto da esquina vendia “sorvete Halley”.

O Brasil inteiro virou astrônomo de ocasião. E lá estava Jorge, então um adolescente magricela e sonhador, munido de binóculos, um cobertor xadrez e uma garrafa de Ki-Suco de groselha.

A família toda foi para o sítio do tio: o pai, sempre prático, carregando o radinho AM; a mãe, empolgada, achando que ia ver algo tipo “E.T.”; e Jorge, com o coração cheio de expectativas — não pela ciência, mas pela ideia de testemunhar um milagre cósmico. Afinal, se o cometa voltava a cada 76 anos, talvez trouxesse respostas sobre o tempo, o destino… ou pelo menos um brilho bonito no céu.

Mas o que veio foi o frio. E a escuridão. E um fiapo de fumaça perdido no horizonte que, segundo o tio, “podia ser o Halley… ou a chaminé da usina”.

Anos depois, já adulto e cheio de telas na frente, Jorge sorri lembrando daquela noite. Hoje, quando o mundo inteiro espera milagres instantâneos — likes, entregas em um dia, resultados em um clique — ele percebe que o tal cometa talvez tenha deixado uma lição invisível: a de que nem todo brilho é pra ser visto. Alguns são pra ser sentidos.

Na real, o Halley nunca falhou. Ele apenas passou — como passam as grandes promessas, os amores de verão e os modismos tecnológicos. Quem falhou foram os humanos, que aproveitaram a oportunidade sem pensar nas consequências.

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Jorge agora ensina isso ao filho Victor, que vive com os olhos grudados no celular, caçando informações no Youtube sobre novas descobertas.

E quando o garoto pergunta se valeu a pena esperar tanto pra ver nada, Jorge sorri:

— Valeu, filho. Porque naquela noite, mesmo sem cometa, a gente se lembrou de olhar pra cima.